Ryokan: é a típica hospedagem tradicional japonesa. Pernoitar em um ryokan é algo que vai muito além do simples hospedar-se. É uma experiência rica, que permite um contato muito direto com a cultura japonesa.
Vou falar neste post sobre as características e tipos de ryokan, dar algumas dicas para a escolha desta hospedagem, e, ao final, vou contar como foi a nossa experiência ao ficar em um.
Elementos do quarto em um ryokan
Uma das propostas do ryokan é utilizar elementos que tradicionalmente estão ou já estiveram nos lares japoneses. Os principais são:
- tatame: todo o chão do quarto, exceto o banheiro e um pequeno hall de entrada, é coberto com essas esteiras feitas de palha trançada. Não devemos pisar sobre o tatame com nenhum tipo de calçado, nem mesmo chinelos.
- fusuma: são portas de correr que fazem a divisão de ambientes ou de armários. As portas são abertas ou fechadas conforme a necessidade de dividir o ambiente ou de integrá-lo a outro para aumentar o espaço.
- shoji: também são portas de correr, mas translúcidas. Feitas de madeira entrelaçada e cobertas com papel fino, permitem a entrada de luz no ambiente.
- chabudai e zabuton: chabudai é a mesa baixinha que fica no centro do cômodo. As pessoas sentam-se à sua volta diretamente sobre o tatame ou sobre um zabuton (almofada). Esse assento pode ainda ter encosto, como uma cadeira sem pés.
- futon: são colchões tradicionais japoneses, colocados diretamente sobre o tatame. É fino e maleável o suficiente para que possa ser dobrado e guardado no armário durante o dia, deixando assim o cômodo livre para a circulação de pessoas. É bem mais fino que um colchão padrão ocidental e pode ser desconfortável para alguns.
Outras comodidades da hospedagem tradicional japonesa
Não bastasse o quarto ser todo decorado e mobiliado conforme a tradição, ainda há outras comodidades que nos fazem mergulhar mais na cultura japonesa:
- yukata: é um quimono (ou roupão) de algodão, bem casual. Os ryokans costuma emprestar yukatas para seus hóspedes, e é normal que todos estejam vestindo-os não só nos quartos mas também nas áreas coletivas.
- chá: japoneses adoram chá (bebida que envolve toda uma tradição e um cerimonial). Os ryokans recebem os hóspedes com um chá, ou no mínimo disponibilizam os itens necessários para o preparo no quarto.
- geta: chinelos de madeira. É costume japonês, nos lares, em ryokans e até em atrações turísticas, deixar os calçados do lado de fora. O objetivo é não trazer a sujeira da rua para dentro do ambiente. No caso do ryokan, o geta é usado para transitar pelos ambientes internos (jamais sobre os tatames).
Tipos de ryokan
Existem inúmeros ryokans espalhados por todo o Japão, e eles vão desde pequenas hospedarias familiares até grandes hotéis que incorporam os elementos e o atendimento diferenciados.
Podem ainda incluir:
- especialmente em cidades com fontes de águas termais, os ryokans podem oferecer onsen aos seus hóspedes. Os banhos podem ser coletivos ou privativos com uso mediante reserva prévia. Há ainda estabelecimentos com onsen exclusivo dentro do quarto.
- uma maneira muito especial de mostrar hospitalidade e oferecer uma maior imersão cultural é através da gastronomia. Por isso muitos ryokans incluem refeições em suas estadias, geralmente a janta e o café da manhã, seguindo o estilo chamado de kaiseki. É uma refeição de muitos pratos, todos priorizando ingredientes locais e da estação, elaborados com extremo capricho. A delicadeza na apresentação dos alimentos é uma característica marcante.
- chega a ser meio redundante falar em bom atendimento no Japão, pois fomos muito bem tratados em todos os lugares por onde passamos. Porém, outra característica dos ryokans é a excelência no atendimento: fazer com que o hóspede realmente se sinta bem tratado e desfrute ao máximo do seu período hospedado lá. Naturalmente, um ryokan pequeno e familiar consegue dar um atendimento muito mais intimista e personalizado, enquanto que um hotel com um grande número de quartos dará um atendimento um pouco mais impessoal (mas ainda assim excelente).
Quanto custa ficar em uma hospedagem tradicional japonesa
Naturalmente, todas essas variáveis que listei até aqui influenciam no preço da estadia.
As opções iniciam na faixa dos 10000 ienes para um casal por diária, porém sem onsen, nem refeições.
*na cotação de julho/2019, 10000 ienes equivalem a aproximadamente 347 reais (ou 92 dólares americanos).
Quanto mais serviços e mimos oferecidos, maior será o custo. Dá para achar ryokans bem completinhos na faixa de 20000-30000 ienes por diária para um casal.
E, dispondo de um orçamento bem folgado 😀 , há aqueles bem luxuosos e exclusivos com diárias acima de 50000 ienes…
O fato é que, em comparação às hospedagens normais, as diárias realmente são mais caras. E isso é justificável por todos os motivos que já falei até aqui.
A nossa escolha do ryokan
Nossa intenção era vivenciar não só a hospedagem no quarto típico japonês, mas também queríamos as refeições kaiseki e o banho no onsen. Falei mais sobre os banhos japoneses neste post aqui e expliquei melhor o que vou escrever a seguir, mas de maneira resumida, não são aceitas pessoas com tatuagens nos onsen coletivos. Por conta disso, um pré-requisito para a escolha do nosso ryokan era oferecer onsen privativo.
Iniciamos a busca procurando nas cidades que estavam no nosso roteiro, e depois de um tempo expandimos para cidades próximas ou nas rotas dos nossos deslocamentos.
Foi trabalhoso! Quando tinha um com bom preço, não tinha o onsen privativo. Quando tinha o onsen, não tinha as refeições. Quando tinha tudo, era muito longe da nossa rota. E quando atendia a todos os critérios, custava uma fortuna!
Mas depois de muita procura, encontramos e escolhemos o Bosenkan, na cidade de Gero – que fica a uma hora de trem de uma cidade que já estava no nosso roteiro: Takayama. Foi um ótimo custo-benefício e atendeu muito bem às nossas expectativas.
Contei mais sobre essa região de Gero e Takayama neste post aqui: Conhecendo os Alpes Japoneses de Trem.
Como foi a nossa experiência na hospedagem tradicional japonesa
Chegamos no ryokan antes do horário de check-in, mas já fizemos o registro e aproveitamos para reservar nosso horário no onsen privativo. Deixamos nossas bagagens e aproveitamos para dar uma caminhada pela cidade, que, aliás, é uma gracinha.
Pontualmente às 15 horas, estávamos de volta, pois queríamos aproveitar cada minuto!
Já na entrada do quarto encontramos as getas disponíveis para usarmos por todo o hotel. E em uma caixinha no canto, os yukatas que logo vestimos.
Fizemos um chá com a linda louça disponível, acompanhando com uns docinhos que eles deixaram de cortesia sobre a mesa. Ficamos curtindo a vista do quarto para o rio até o horário do banho no onsen.
Contei em mais detalhes sobre como foi o nosso banho no onsen no post que já mencionei aí acima (este), pois é algo tão diferente e especial que realmente achei que merecia um texto à parte.
Tínhamos comprado uma garrafa de espumante na loja de conveniência da cidade e deixamos no frigobar do quarto (#ficaadica 😉 ). Quando voltamos do banho, abrimos o espumante e ficamos bebericando até a hora do jantar. Vidão!
O jantar kaiseki
As refeições eram servidas em um salão no térreo, com horário marcado. Quando chegamos lá, nossa mesa já estava pronta à nossa espera. A super simpática e gentil atendente trouxe o chá quentinho e o arroz para acompanhar a refeição, e acendeu o fogo de um tipo de rechaud sobre a mesa. A atenção deles com os pequenos detalhes é tanta que ela arrumou até nossas getas que a gente tinha largado de qualquer jeito ao lado da mesa. Fofos!
Muitos alimentos lindamente colocados à nossa frente, sendo que muitos não eram identificáveis 😀 ! Experimentamos todos: um ou outro não agradou ao paladar e deixamos de lado, mas a grande maioria era deliciosa – mesmo aqueles que não sabíamos o que eram. É uma sensação engraçada mas muito interessante, se permitir provar alimentos sem saber o que são, pela pura confiança de que eles foram selecionados e feitos com o maior capricho. Foi um jantar incrível.
Noite de sono, café da manhã e fim da estadia
Quando retornamos para o quarto, os futons já estavam arrumados. Algumas pessoas relatam desconforto para dormir em futons, mas depois do banho térmico super relaxante e aquela janta saborosa que mais parecia um ritual, isso não foi um problema para nós. Dormimos feito pedras.
Na manhã seguinte, descemos para o café da manhã e a cena se repetiu: mesinha arrumada nos aguardando e a atendente logo veio trazendo alguns itens quentes. Dessa vez já tínhamos deixado as getas alinhadas 😀 .
O café da manhã é bastante diferente do que nós ocidentais estamos acostumados. Esquece pão, manteiga e leite. Em vez disso, chá verde, arroz, sopa missô, peixe, vegetais e mais alguns alimentos não identificados.
Quando voltamos ao quarto, os futon já haviam sido guardados. Já era hora do check-out 😕 … Aproveitamos o transfer oferecido pelo hotel até a estação de trem, e assim encerramos esse dia inesquecível.
Nossa experiência em uma hospedagem tradicional japonesa aconteceu durante a viagem de três semanas que fizemos pelo Japão.
Também pode te interessar ler: Preparativos de viagem ao Japão.
Que achaste da experiência? Já ficaste em um ryokan? Gostarias de ficar? Me conta aí nos comentários! 😉
5 de setembro de 2019 at 03:12
Que demais! Eu morro de vontade de me hospedar em um ryokan! Com certeza a experiência em uma hospedagem tradicional japonesa faz toda a diferença, mesmo pagando um pouco a mais, acho que vale muito a pena para experimentar a tradição deles e entender mais da cultura japonesa, que é incrível né?
5 de setembro de 2019 at 18:07
Com certeza, Liany! Vale cada centavo!
5 de setembro de 2019 at 08:47
Se hospedar num ryokan é a experiência mais legal que alguém pode ter no Japão! Só vivendo todas essas coisas que vc listou de perto pra entender como é especial!
5 de setembro de 2019 at 18:08
Verdade, Bruna! Especial demais.
6 de setembro de 2019 at 00:17
Que super experiência! Apesar de ter descendência japonesa, não me ligo muito na cultura e na tradição. Ainda assim, gosto muito e gostaria de ter mais dedicação. Adorei conhecer um pouco mais por aqui. Quando li sobre a tatuagem lembrei de minha tia me falando sobre as minhas e sobre o Japão, ela, já senhorinha (que morou muito tempo no Japão) não era nada fã e ficava muito incomodada com minhas tatuagens. hehe.
6 de setembro de 2019 at 19:52
Ahahah fico imaginado a cena… todo mundo que tem tatuagem tem algum parente que implica com elas, né? Mas no caso da tua tia, é algo que tem raízes históricas e culturais bem compreensíveis.
6 de setembro de 2019 at 04:39
Fiquei com muito de conhecer uma hospedagem tradicional japonesa, todo sobre a cultura do Japão me encanta
6 de setembro de 2019 at 19:52
Encantador mesmo, Christian.
7 de setembro de 2019 at 04:41
Morro de vontade de ficar hospedada num ryokan, quando fui pro Japão eu apenas fiquei em hospedagem tradicional, mas tenho certeza que ia curtir a experiência
7 de setembro de 2019 at 11:06
Com certeza tu adorarias, Paula. É uma experiência única.