Cambará do Sul é uma pequena cidade da região dos Campos de Cima da Serra, no nordeste do estado do Rio Grande do Sul. Com uma população de aproximadamente 6500 habitantes, é uma cidade pacata. Um viajante desavisado pode chegar no tranquilo centro da cidade e se perguntar “o quê é que estou fazendo aqui?”. Mas é em Cambará do Sul que estão os maiores cânions do Brasil – o Fortaleza e o Itaimbezinho, respectivamente, com 800 e 700 metros de profundidade – além de outros cânions, sendo por isso conhecida como a Terra dos Cânions. Outras belezas naturais, como cachoeiras e vastos campos de mata nativa, também são atrações da região.

Como chegar e como se locomover em Cambará do Sul

A capital de estado mais próxima de Cambará do Sul é Porto Alegre, a 180 km de distância. Apesar de existirem ônibus que fazem o trajeto entre as duas cidades, a melhor maneira de ir até lá é de carro.

Na cidade, existem operadoras de turismo que levam às atrações, mas sem dúvidas estar com o seu carro e ter flexibilidade de adaptar o roteiro como e quando quiser é de longe a melhor maneira de explorar os arredores de Cambará do Sul.

Gramado, a cidade mais conhecida da Serra Gaúcha, fica a 115 km de distância. Pode parecer tentador fazer um bate-volta a Cambará do Sul estando hospedado em Gramado, ainda mais para visitantes vindos de outros estados do Brasil. Porém, as atrações ficam distantes do centro da cidade, com trechos de estradas de chão, o que pode tornar um bate-volta bastante cansativo e pouco proveitoso. Recomendo avaliar bem os prós e contras. Creio que neste caso seja mais interessante um passeio com agência, assim pelo menos o desgaste de guiar o carro é poupado.

Clima em Cambará do Sul

A região dos Campos de Cima da Serra é a mais fria do estado do Rio Grande do Sul, e o seu inverno está sempre entre os lugares mais frios do Brasil. Quando neva no sul do Brasil, Cambará do Sul costuma estar entre as cidades contempladas!

As temperaturas médias ficam entre 14 e 24º em janeiro, e entre 5 e 16º em julho. Resumindo, é um lugar frio no inverno e no máximo fresco no verão.

É também um lugar com alta frequência de chuvas e de dias nublados. Outra característica é a formação de nevoeiros, fenômeno comum na região. Por este motivo, é recomendado visitar os cânions o mais cedo possível da manhã, quando a chance de ter melhor visibilidade é maior.

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Atrações de Cambará do Sul

Parque Nacional dos Aparados da Serra – Cânion Itaimbezinho

O Parque Nacional dos Aparados da Serra abrange a divisa natural entre os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Sua principal atração é o Cânion Itaimbezinho. A profundidade dos seus paredões chega a 700 metros, e possui 5,8 quilômetros de extensão.

Para visitar a parte alta do Cânion Itaimbezinho, é preciso percorrer 18 km de estrada de chão desde o centro de Cambará do Sul até a Entrada do Centro de Visitantes. Ali, há estacionamento, banheiros e uma pequena exposição com painéis explicativos sobre os cânions.

São duas trilhas, ambas auto-guiadas: a Trilha do Vértice é a mais curta (2 km ida e volta). Dessa trilha, é possível ver a Cachoeira das Andorinhas e a Cascata Véu de Noiva, além de belos ângulos sobre o cânion.

Em um dos pontos da trilha, ficamos em frente ao vértice do cânion. É muito interessante, a sensação é de que a terra está se abrindo sob nossos pés.

Cambará do Sul: atrações turísticas e outras informações sobre a cidade.
Trilha do Vértice, no Itaimbezinho, em um dia de nevoeiro.

A segunda é a Trilha do Cotovelo (6 km ida e volta). É ao final dela que se tem a visão mais clássica, mais bonita e mais impressionante do Itaimbezinho.

Cânion Itaimbezinho.
Foto: “File:Parque Nacional Aparados da Serra – Itaimbezinho – panoramio (23).jpg”, de Larissa Fraga, sob licença CC BY 3.0.

O Centro de Visitantes da parte alta do Itaimbezinho está aberto de 3ª a domingo, das 8h às 17h (saída do parque até 18h). O ingresso para a Trilha do Cotovelo deve ser feito até as 15h.

Já a parte de baixo do Cânion Itaimbezinho pode ser visitada pela chamada Trilha do Rio do Boi. É uma trilha que requer um nível de condicionamento físico maior que as trilhas da parte alta, pois são 14 km em cerca de 8 horas (ida e volta). O percurso atravessa o Rio do Boi diversas vezes, em vários trechos bastante pedregosos.

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Trilha do Rio do Boi.

O acompanhamento de um guia nesta trilha é obrigatório, visto que é necessário conhecer os pontos certos para atravessar o rio e para passar por trechos de mata fechada.

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Uma das diversas vezes em que atravessamos o Rio do Boi durante a trilha.

As paisagens durante esta trilha são sensacionais. Chegamos até um ponto onde os paredões se erguem ao nosso redor, nos lembrando do quanto somos minúsculos perante a natureza. Maravilhoso!

Se o clima estiver favorável, esses poços de água ao longo da trilha rendem banhos deliciosos.
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Imensos paredões do Itaimbezinho nos cercando.

A entrada para a Trilha do Rio do Boi é feita pelo Posto de Informação e Controle do Rio do Boi, que fica no município de Praia Grande (SC). Partindo do centro de Cambará do Sul, são 44 km de estrada de chão.

Atenção: tanto o Cânion Itaimbezinho quanto o Fortaleza estão sob a concessão da empresa Urbia Cânions Verdes. O valor do ingresso (dezembro/2021) é de R$ 50 para um dia e R$ 80 para dois, válido para Itaimbezinho, Fortaleza e acesso à Trilha do Rio do Boi. Os estacionamentos são pagos à parte.

Parque Nacional da Serra Geral – Cânion Fortaleza

Assim como o Aparados da Serra, o Parque Nacional da Serra Geral compreende porções de ambos estados: Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Sua principal atração é o Cânion Fortaleza. De dimensões ainda mais impressionantes que o Itaimbezinho, tem 7,5 quilômetros de extensão e até 800 metros de profundidade.

Para chegar, são 22 km a partir de Cambará: os 14 primeiros quilômetros estão asfaltados e o restante é de chão batido e pedras. O trecho final de 2,5km da estrada é muito ruim, com muitos pedregulhos. Dá pra ir de carro baixo, comum, de passeio, mas com bastante paciência!

As trilhas do Cânion Fortaleza são três, todas auto-guiadas. Duas delas podem ser acessadas a partir da área de estacionamento ao final da estrada. A primeira e mais tranquila delas é a Trilha Borda Sul, que vai margeando a borda do cânion.

Não é precisa caminhar muito desde o estacionamento para ter esse visual aí.

A Trilha Borda Sul pode ser curta, média ou longa. Partindo do estacionamento direto em direção ao cânion, são apenas 200 metros. Depois, é possível ir seguindo junto à borda do cânion na direção contrária à da Trilha do Mirante, fugindo um pouco do povo que se acumula nesse ponto de mais fácil acesso. E, para quem tem ainda mais disposição, pode ser iniciada junto à Trilha da Cachoeira do Tigre Preto, que falarei mais abaixo.

A segunda, é a Trilha do Mirante, que tem cerca de 1,5 quilômetro (por trecho), com uma significativa subida. Em dias claros, olha para a tua direita durante essa subida: se a visibilidade estiver boa, dá para ver o litoral, parte gaúcho e parte catarinense, e identificar bem direitinho a cidade litorânea de Torres.

Devagar e sempre, se atinge o topo da trilha. É redundância dizer que as vistas são espetaculares!

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Cânion Fortaleza em dia de neblina.

Uma informação muito importante é que, enquanto o Itaimbezinho tem deques de observação e cercas delimitando as bordas do cânion, o Fortaleza é bem roots e não tem nada disso. Portanto, atenção redobrada por aqui! Inclusive, a Trilha do Mirante leva a um mirante natural, não há estrutura nenhuma. A concessão do Cânion Fortaleza à empresa Urbia Cânions Verdes prevê a instalação de cercas, guarda-corpos e deques.

A terceira trilha é a da Cachoeira do Tigre Preto e da Pedra do Segredo. Saindo do estacionamento da Trilha do Mirante, é preciso retornar (de carro) na estrada em direção a Cambará por uns 2,5 km. Haverá uma “casinha” e uma discreta placa indicando o início da trilha (e provavelmente alguns veículos estacionados por ali, na beira da estrada mesmo). Aqui inicia também a trilha longa da Borda Sul, que comentei acima, em um trajeto que leva cerca de 5 horas.

A Trilha da Cachoeira do Tigre Preto e da Pedra do Segredo possui poucas placas de sinalização. Dá para fazer por conta própria numa boa, mas para quem tem receio pode ser interessante contratar um guia.

Após um pequeno trecho pelo mato, é preciso atravessar o rio. Há várias pedras e é possível fazer a travessia sem precisar molhar os pés, se o nível da água estiver normal. Chega-se bem próximo à queda d’água, vai com cuidado.

Só do outro lado é que temos a visão da Cachoeira do Tigre Preto.

Logo a seguir nesta trilha, mais um ponto de onde temos uma vista incrível sobre o Cânion Fortaleza.

Cambará do Sul: atrações turísticas e outras informações sobre a cidade.

Continuando, encontramos a Pedra do Segredo, um bloco de pedra que tem cinco metros de altura equilibrando-se sobre uma base de meio metro.

Pedra do Segredo.

Seguindo a trilha por mais uns poucos minutinhos, dá para chegar ainda mais perto da Pedra do Segredo. A vista é da pedra com todo o cânion ao fundo, sensacional.

No total, a Trilha da Cachoeira do Tigre Preto e da Pedra do Segredo tem cerca de 1 km (por trecho).

O portão de acesso ao Cânion Fortaleza fica aberto de 4ª a 2ª, das 8h às 17h (saída do parque até 18h).

Atenção: tanto o Cânion Fortaleza quanto o Itaimbezinho estão sob a concessão da empresa Urbia Cânions Verdes. O valor do ingresso (dezembro/2021) é de R$ 50 para um dia e R$ 80 para dois, válido para Itaimbezinho, Fortaleza e acesso à Trilha do Rio do Boi. Os estacionamentos são pagos à parte.

Cascatas dos Venâncios

A 23 km de Cambará do Sul (estrada de chão) fica a Fazenda Cascatas dos Venâncios (pertencente, na verdade, ao município de Jaquirana).

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Uma das Cascatas dos Venâncios.

São quatro quedas d’água em sequência, mais largas do que altas, formando diversos poços e piscinas naturais para um banho revigorante. Dá até para entrar sob algumas delas e aproveitar uma maravilhosa hidromassagem natural.

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As hidromassagens e as piscinas naturais das Cascatas dos Venâncios.

É um lugar maravilhoso para passar um dia inteiro, ou então um resto de tarde após ter visitado um dos cânions. Mesmo que o clima não esteja convidativo para o banho, há trilhas disponíveis para apreciar a beleza do local, além de estrutura de churrasqueiras e banheiros e área para camping.

O ingresso é de R$15 para uma visita de até duas horas, R$25 para passar o dia todo e R$ 30 para o camping. Contato: (54) 99924-6499.

Cachoeira do Tio França

A Cachoeira do Tio França fica a 3 km de Cambará do Sul, em estrada de chão, na propriedade particular chamada Estância Felicidade.

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Cachoeira do Tio França.

Há uma trilha de 700 metros para apreciar a cachoeira, e um restaurante onde o proprietário da estância serve parrillada. O ingresso para visitação é de R$10. Para maiores informações, o contato deles é (54) 9931-9800.

Outros cânions e atrações

O apelido de Terra dos Cânions dado a Cambará do Sul não deve-se somente ao Itaimbezinho e ao Fortaleza. Porém, os demais cânions da região não possuem estrutura para visitantes e geralmente é necessário contratar um guia ou uma agência de turismo para explorá-los.

No Cânion Malacara é possível fazer uma trilha por dentro do cânion, em uma atividade que é chamada de “versão light da trilha do Rio do Boi”. O trajeto é de cerca de 3 a 4 horas (ida e volta) e cruza o rio algumas vezes até chegar em uma piscina natural. Requer guia.

O Cânion Josafaz é o maior da região dos Aparados da Serra, com 16 km de extensão. Propício para trilhas longas – de dia inteiro ou até mesmo com pernoite em barracas. Atração para os mais aventureiros! Também é necessário acompanhamento de guia.

O Cânion Índios Coroados pode ser admirado por conta própria. A 22 km de Cambará do Sul pela estrada RS-427, em direção a Praia Grande-SC, há uma construção abandonada (localização no Google Maps: 29°10’36.8″S 50°01’38.8″W). Dali, são 15 minutos de caminhada até o mirante natural para este cânion e para duas quedas d’água. Não há cobrança de ingresso e, ao mesmo tempo, nenhuma estrutura ou sinalização, portanto, cuidado.

Temos ainda os cânions da Pedra, Churriado, Leão, Corujão, Molha Coco… Cânion é o que não falta por estas bandas!

E com tanta exuberância da natureza por estas paragens, as atividades de ecoturismo são uma ótima pedida. As agências (e algumas hospedagens) oferecem atividades como passeios de bicicleta, rapel, cavalgada e passeios de barco.

Praia Grande – SC

Toda a região dos parques nacionais e dos cânions abrange o limite dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina – de modo geral, a parte alta dos cânions está no RS e a parte baixa em SC. Assim como Cambará do Sul, o município de Praia Grande, em Santa Catarina, também é base para explorar a região.

O vínculo com os cânions é tão forte para ambas cidades que, enquanto Cambará do Sul é chamada de Terra dos Cânions, Praia Grande tem a alcunha de Capital dos Cânions.

Hospedar-se em Praia Grande é boa opção conforme as atividades escolhidas. Por exemplo, para a entrada da Trilha do Rio do Boi, Praia Grande está a apenas 11 km. Por outro lado, a distância para o Centro de Visitantes do Itaimbezinho é de 22 km, e para o portão de ingresso ao Cânion Fortaleza, é de 60 km!

A estrada que liga Cambará do Sul a Praia Grande é a RS-427, que atravessa a Serra do Faxinal. A estrada é de chão batido e a distância aparentemente curta de 38 km entre uma cidade e outra é percorrida em cerca de 1h20min. Há alguns mirantes ao longo da estrada e as vistas são, como sempre, maravilhosas.

Descendo a Serra do Faxinal pela RS-427.
Dicas importantes para explorar as atrações de Cambará do Sul
  • veículo apropriado: as estradas para as atrações são de chão e as condições não são das melhores. Um carro comum passa por esses caminhos, com uma dose extra de paciência – na nossa primeira ida a Cambará, fomos em um Corsinha 1.0 e o coitado sofreu, mas deu conta 😀 . Mas se vais alugar carro, vale o investimento em um veículo mais potente e com suspensão mais forte;
  • calçados apropriados: sejam pequenas, médias ou grandes, os passeios baseiam-se em trilhas. Usa tênis confortáveis e, de preferência, próprios para terrenos irregulares;
  • roupas apropriadas: camadas de proteção contra o frio e, mesmo no verão, um casaco corta-vento à mão é sempre recomendado;
  • além de proteção contra o frio, é bom ter proteção contra a chuva, que tem incidência alta na região. Pelo menos uma capa de chuva ajuda bastante;
  • lanche e água: parte das atrações não tem estrutura de restaurante ou lancheria, então é sempre bom levar contigo algum lanche. E água sempre, especialmente para as trilhas médias/longas;
  • recolher o lixo: uma natureza espetacular e grandiosa como essa, não vai ser tu o(a) sem caráter a deixar lixo lá, certo? 😉
Guias e agências de turismo em Cambará do Sul

Para contratar guias para as trilhas de Cambará do Sul, entra em contato com a ACONTUR – Associação de Condutores Locais de Ecoturismo de Cambará do Sul – RS. Nós já utilizamos o serviço deles quando fizemos a Trilha do Rio do Boi e recomendamos.

Para quem gosta de deixar para acertar os passeios na última hora, no centro de Cambará do Sul – basicamente, na avenida central da cidade, a Avenida Getúlio Vargas – há várias agências que oferecem transporte com guia para as principais atrações.

Visitem Cambará do Sul!

Nós somos apaixonados por Cambará do Sul e pelas paisagens arrebatadoras dos cânions. É um destino que, na nossa opinião, ainda não tem a importância turística que deveria e mereceria ter. Espero ter despertado (ou quem sabe ter aumentado) teu interesse em conhecer essa região!

Este post foi atualizado em 02/12/2021.


Este post faz parte de uma Blogagem Coletiva com o tema Destinos no Brasil. Confere o que os outros blogs escreveram – nosso país tem muitos destinos incríveis!


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