O passeio ao Salar de Tara é o considerado mais roots no Deserto do Atacama: mais horas de deslocamento, parte do trajeto em locais onde o caminho mal pode ser chamado de estrada (não há demarcação, apenas o rastro deixado pelos pneus de outros veículos que ali passaram), altitude acima dos 4000 metros e estrutura nenhuma nas paradas ao longo do dia. E, compensando qualquer dificuldade, os cenários são de uma beleza absurda.

Começamos o passeio com o guia Maurício nos explicando que a região do Salar de Tara encontra-se dentro de uma gigantesca caldeira formada há milhões de anos após a erupção do vulcão Vilama, com uma impressionante superfície de mais de 30 quilômetros de raio! Caramba! 😮

Me perguntei qual seria a diferença entre caldeira e vulcão e fui pesquisar a respeito após o passeio. De forma resumida, a caldeira forma-se após uma erupção tão forte que provoca o afundamento da parte superior do vulcão, resultando em um superfície achatada de diversos quilômetros quadrados, enquanto a cratera tem dimensões menores, no topo de um cone vulcânico (naquela imagem clássica que a maioria das pessoas tem de um vulcão: um cone com uma abertura circular na parte de cima).

E foi no interior dessa caldeira colossal chamada de La Pacana, que se espalha pelos territórios de Chile, Bolívia e Argentina e que é onde localiza-se o Salar de Tara, que passamos nosso dia.

Ainda no primeiro trajeto de estrada, passamos por um ponto de onde é possível ver parte das antenas do ALMA. Não paramos ali e foi apenas um vislumbre muito rápido, talvez uns 30 segundos, mas já fiquei bem faceira de tê-las visto. O guia contou sobre um grupo de turistas que estavam em seus veículos 4×4 e tiveram a “brilhante” idéia de se enfiar pelo meio do nada em direção às antenas, para vê-las mais de perto. Resultado: foram presos e se incomodaram bastante até conseguirem voltar para suas casas. 😀

A primeira parada foi no Mirador da Quebrada Quepiaco. Diversos flamingos espalhados na lagoa, vários deles exibindo-se para nós em seus voos.

Quebrada Quepiaco.

Ali tivemos nosso café da manhã: café, leite, chá, pão, frios, bolo, doce de leite, etc. Tudo gostoso, ainda mais por termos aquele cenário para apreciar durante a refeição.

Seguimos por mais estrada de asfalto e fizemos outra parada em uma curva, de onde se tem uma bonita vista.

Logo a seguir, saímos da estrada e seguimos pelo meio do deserto. O caminho está praticamente marcado, tamanho é o fluxo de veículos de turistas por ali, mas não há a menor sinalização ou estrutura.

Paramos para ver os Monges de La Pacana, região com diversas formações de pedra enormes. A mais conhecida é esta abaixo aí de baixo, que vista de lado parece um índio.

Chegamos então ao próprio Salar de Tara. A primeira visão é das formações conhecidas como Catedrales.

Salar de Tara.
Salar de Tara.

Uma pena que a esta altura o dia tinha ficado bastante feio. Estava bem nublado, com muito vento, e chegou até a chuviscar uns minutos durante nosso passeio a pé nas margens do Salar de Tara. Mas isso não foi suficiente para diminuir nosso encantamento pelo que estávamos vendo.

Salar de Tara.
Salar de Tara.
Flamingos no Salar de Tara.

Não há aqui a menor estrutura para os turistas e, por isso mesmo, não há também cobrança de ingresso. Porém, o caminho por onde o trânsito de pessoas é permitido está demarcado com pedras.

O guia ressaltou o pedido para não sairmos da trilha, pois existe lá um roedor que faz sua toca sob a terra e uma única pessoa que ande por cima é suficiente para destruí-la. Foi ele dar as costas e o que fez uma idiota do nosso grupo? Saiu caminhando para dentro da parte não permitida, fazendo poses para as fotos que o seu namorado estava tirando. Gente, qual é a dificuldade? Não consigo entender! O guia viu e educadamente pediu para ela sair dali, mas a cara dele transparecia o seu incômodo. Haja paciência.

Vimos diversos desses roedores saindo rapidamente das suas tocas, mas na mesma velocidade eles já se escondiam. Foi impossível fotografar um deles. 🙂

Depois de um tempo caminhando acompanhados do guia ouvindo suas explicações, tivemos que fazer uma opção. O planejado era almoçarmos por ali, mas estava ventando muito, era desconfortável. A alternativa era almoçarmos no mesmo local onde tivemos o café da manhã, e todos prontamente concordaram.

Iniciamos o retorno. No caminho paramos em uma das imensas pedras na qual é possível subir. Uma subida dessas a 4000 metros de altitude deixa qualquer um ofegante, mas a vista compensa! Dava para enxergar muito longe, inclusive o Cerro Zapaleri (um vulcão extinto), que marca a fronteira entre Chile, Argentina e Bolívia.

Salar de Tara.
Subindo…
Salar de Tara.
Salar de Tara.
Salar de Tara.
… e descendo. Lá ao fundo, o Cerro Zapaleri.

Um ponto importante deste passeio eu já comentei: não há estrutura turística nenhuma. Isso quer dizer que, quem quiser “usar o banheiro”, deve usar o que os próprios guias chamam de “banheiro inca”. Ou seja, eles param junto a alguma pedra grande com algumas reentrâncias e quem quer vai ali mesmo. O problema é que, aparentemente, todos eles já param nos mesmos lugares manjados e no chão há um acúmulo de… papel higiênico usado! Sim, bastante desagradável. Então lembrem-se de levar papel higiênico/toalha umedecida, álcool gel e, muito importante, um saquinho para recolher o lixo! Um ziploc funciona bem, pois é resistente e fica bem fechado. Dá para deixar embaixo do assento da van e no final do passeio colocar junto ao lixo recolhido pelo guia. Pronto! A natureza agradece e os próximos turistas que vão para lá também. 😉

Chegamos novamente no Mirador da Quebrada Quepiaco. Fomos recebidos por um belo arco-íris, mas em seguida nublou de vez.

O almoço (burritos, com vários acompanhamentos para o recheio) foi improvisado na parte de trás da van, enquanto todos se amontoavam ali tentando se proteger um pouco do vento forte.

Ainda no caminho de volta para San Pedro do Atacama, paramos para fazer algumas fotos em frente aos dois vulcões: Licancabur e Juriques. O tempo tinha melhorado um pouco, mas o passeio já estava no final.

Licancabur e Juriques, imponentes.

Encerramos o dia já meio nostálgicos, processando as informações dos cinco dias de passeios que fizemos no Atacama, com aquele sentimento de quem acabou de ter uma jornada inesquecível e mágica. Uma mistura de felicidade por ter tido esse privilégio com uma pontinha de tristeza por ter que ir embora no dia seguinte… e a expectativa por mais um destino excepcional que logo estava por vir: o Salar de Uyuni!

Resumo das informações práticas:

  • Agência: vendido pela Atacama Connection, operado pela Incanorth (Atakama Cultural)
  • Valor: 40.000 pesos chilenos por pessoa
  • Ingresso: não há
  • Importante levar: roupa para frio, corta-vento, água, protetor e óculos solares, papel higiênico, álcool gel e saco para recolher o lixo 😉 .

Este passeio aconteceu em 24 de janeiro de 2018.


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