Em uma das nossas idas ao Vale dos Vinhedos, decidimos ir conhecer uma vinícola boutique cujo nome ficou conhecido após produzir os vinhos oficiais da Copa do Mundo de 2014: a Vinícola Lídio Carraro.

A Vinícola Lídio Carraro possui um conceito de trabalho muito bem definido: produzir vinhos puristas, ou seja, vinhos que são elaborados com o mínimo de intervenção possível, valorizando as características de cada variedade de uva e do seu terroir. Para atingir este objetivos eles trabalham com vinhedos próprios (no vale dos Vinhedos e em Encruzilhada do Sul), colheita manual e produção limitada de uvas por hectare, dentre outros fatores.

Para entender melhor esse conceito de vinho purista, nada melhor do que uma visita à vinícola. Diferente de vários outros estabelecimentos do mesmo ramo no Vale dos Vinhedos, aqui não há um passeio pelos locais de elaboração do vinho, ou pelos vinhedos, tampouco pelas caves. Fomos recebidos diretamente na casa da família Carraro, adaptada para recepcionar os visitantes.

Vinícola Lídio Carraro.

Chegamos lá em uma manhã chuvosa de sexta-feira, sem pré-agendar a visita. A pessoa que abriu a porta da casa nos recebeu de uma forma tão calorosa que parecia que éramos velhos amigos. Era a Letícia, enóloga que seguiu nos acompanhando durante toda a nossa visita. Claro que depende da proporção entre o número de visitantes e a quantidade de pessoas para atender em cada momento, mas tivemos a sorte de ter uma experiência exclusiva: só nós dois com nossa enóloga “particular”, enquanto um outro grupo de visitantes estava sendo atendido por outra pessoa em um ambiente distinto da casa. Nos sentimos muito à vontade e tivemos a certeza de que vinha coisa muito boa pela frente.

Ela fez uma explicação introdutória sobre a empresa, sua história e seu conceito, acompanhada de algumas imagens no telão. Falou sobre o uso de diferentes terroirs e mostrou algumas amostras de solo para exemplificar.

Amostras de diferentes solos dos vinhedos da Lídio Carraro.

E, sem maiores delongas, passamos à parte mais aguardada de qualquer visita a uma vinícola: a degustação. Segundo a guia, no seu espaço preferido da casa: o balcão (“fica a um passo da adega climatizada, é só estender o braço e pegar o vinho que quiser” – gostei! 😉 ).

O cantinho do balcão, com a adega climatizada à direita.

Começamos experimentando dois diferentes Chardonnay, um da linha Faces e outro da linha Dádivas. Na teoria a gente sabe que uma mesma uva pode gerar bebidas muito diferentes entre si, mas experimentar isto na prática foi bastante enriquecedor, ainda mais com as observações da enóloga (que aliás, sabia muito, além de ser uma simpatia). Para fazer mais um contraponto, provamos mais um vinho branco, porém um Sauvignon Blanc.

Vinícola Lídio Carraro.

O fato da visita da Vinícola Lídio Carraro estar completamente centrada na degustação ajuda muito a entender o conceito dos vinhos puristas. A cada rótulo, recebíamos explicações sobre como aquele vinho fora produzido e podíamos experimentar no olfato e no paladar tudo aquilo que a enóloga estava descrevendo. Ah, e claro, a qualidade excepcional das bebidas tornou a experiência ainda melhor.

Passamos aos vinhos tintos. Começamos com uma degustação às cegas: ela serviu o vinho de uma garrafa embrulhada em um pano preto e pediu que tentássemos adivinhar de que uva era. Para ajudar, ela deu quatro alternativas – aliás, isso foi uma das coisas mais sensacionais desta visita: à medida que fomos papeando, ela foi captando qual era o nível de conhecimento sobre vinhos e foi adequando a experiência. Certamente um expert teria uma experiência diferente do que foi a nossa, que também seria diferente daquela de alguém completamente leigo.

Continuando, ela brincou perguntando se queríamos apostar entre nós, e sugeriu que caso um acertasse, o outro lavasse a louça uma semana 🙂 . Preferimos não apostar, mas deveríamos, porque eu acertei 😛 . Era um malbec – surpreendente. Foi esse o vinho que me fez compreender o tal purismo. Tinha um sabor que eu nunca tinha provado em um malbec.

Vinícola Lídio Carraro.

Seguimos degustando um tempranillo e depois um corte de cabernet sauvignon com malbec. Para finalizar a parte de vinhos, um excelente Grande Vindima, vinho que só é produzido em safras excepcionais – provamos o Quorum, de 2008. Novamente, a guia brincou para que adivinhássemos as uvas que compunham esse vinho, mas aí já estava além da nossa capacidade 😀 . Tratava-se de um corte de merlot, cabernet sauvignon, tannat e cabernet franc.

Uma coisa que me impressionou bastante na questão de intervenção mínima, é que eles não usam madeira. Eu nunca tinha pensado no uso de barris de carvalho como uma intervenção, mas quando ela falou isso percebi que faz todo o sentido, pois a madeira confere suas notas à bebida.

Outra coisa que achei muito interessante é o uso de diferentes terroirs para equilibrar o produto final de uma mesma uva. Eles se aproveitam muito bem das características da uva conforme o solo, a altitude e o clima de origem. Por exemplo: as uvas merlot do lote “X” tem pouca acidez, enquanto as do lote “Y”, que fica em altitude e solo diferentes, são mais ácidas. A proporção das uvas de cada lote é ajustada para obter o equilíbrio da bebida. É como se fosse um corte, mas da mesma variedade de uvas. Claro que com as minhas palavras parece bastante simples, mas tem muita tecnologia e conhecimento científico por trás disso.

O compromisso da marca em produzir somente bebidas com qualidade diferenciada acabou rendendo algumas parcerias com grandes eventos, e curiosamente vários deles ligados ao mundo do esportes. Em 2007, produziu os vinhos oficiais dos Jogos Panamericanos do Rio, e na sequência, para a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

Os vinhos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Infelizmente não estão inclusos na degustação, pois são edições bem limitadas: respectivamente, 2014 e 2016 garrafas cada.  

Para finalizar, como ao longo da degustação manifestamos que gostamos muito de espumantes, ela nos serviu um rosé da linha Faces, para fechar com chave de ouro a experiência.

Além de ser delicioso, ela tem uma cor delicada e linda.

Ficamos à vontade para olhar a loja e, claro que depois disso tudo, nossa vontade era de levar uma garrafa de cada. Mas fomos bem comedidos 😛 .

Depois de ter me derretido em elogios, creio que ficou evidente que foi uma visita sensacional. Sem dúvida, a melhor que já fiz no Vale dos Vinhedos, super personalizada e com bebidas deliciosas. Para completar, aprendi muito não só sobre vinhos, mas sobre o meu gosto. Como nossa guia disse, quanto mais a gente conhece o nosso paladar, mais a gente aprimora a experiência de beber um vinho. Pois, quem bebe vinho sabe que não é apenas uma bebida, é toda uma experiência, até mesmo um ritual.

Para maiores informações sobre horários de visitação, produtos e etc, visita o site oficial da Vinícola Lídio Carraro.

A visita relatada aconteceu em 03/08/2018.

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